terça-feira, 27 de outubro de 2015

A imagem ideal e a autoestima

Escrito pela Psicóloga Fernanda Guimarães e pelo Especialista em Sociologia Roberto Guimarães.

A autoestima pode ser conquistada pela imagem?

É comum ouvirmos falar que uma das formas de melhorar a autoestima é desenvolver um corpo bonito e uma aparência adequada aos padrões de beleza em dado meio social. Superficialmente, isso parece ser verdade, pois basta aparecer bonito(a) na rua ou nas redes sociais virtuais para começar a receber elogios e comentários que demonstram o reconhecimento das pessoas em relação àquela imagem exibida, o que tende a promover bem estar. Assim, alguns assumem que o caminho para a autoestima se resume a passar longas horas na academia, a fazer dietas extremas, a recorrer às constantes intervenções cirúrgicas e a agir prioritariamente em nome da beleza. Isso pode ser um grave erro e resultar em pioras significativas na qualidade da autoestima. Mas por quê?

Definição

Primeiramente precisamos entender o conceito de autoestima. A autoestima pode ser entendida como a avaliação que cada sujeito faz de si mesmo independente da opinião do meio, e o resultado desse julgamento está intimamente ligado à capacidade que esse indivíduo tem de se gostar. Pessoas com boa autoestima farão boas avaliações em relação a quem são e se valorizarão como um todo, mesmo reconhecendo os aspectos negativos de sua personalidade.

Reconhecimento externo x autovalorização

Os meios de comunicação frequentemente apresentam a ideia de bem estar associada com boa autoestima, como se estar bem fosse uma garantia desta última. É aí que acontece o engano. Quando você se sente bem por ser elogiado ou reconhecido pelo meio, esse bem estar tende a existir apenas enquanto a condição de destaque perdurar e é válido apenas no meio que se manifesta positivamente em relação a essa condição. Se o bem estar depende exclusivamente das respostas do meio, isso significa que o indivíduo ainda não é capaz de autovalorização.
Esse engano resulta, com frequência, na necessidade de se manter “perfeito” fisicamente, e isso tem levado muitas pessoas “às compras” por uma imagem ideal, mesmo que artificial, através de medidas bastante prejudiciais. São exemplos disso aqueles que tentam negar o envelhecimento por meio de inúmeras intervenções cirúrgicas prejudiciais à saúde do corpo, ou que tentam corrigir “defeitos” na imagem por meio das mesmas intervenções inconsequentes, ou ainda pessoas que fazem dietas que não suprem os nutrientes necessários ao bom funcionamento do corpo em nome da silhueta “perfeita”, ou que sofrem ao ingerir algumas calorias que deveriam gerar prazer, ou que utilizam substâncias para o fortalecimento do corpo e melhoria da imagem em detrimento do bom funcionamento dos outros órgãos internos, ou que expõem sua privacidade de maneira abusiva por meio de fotos ou vídeos em redes sociais virtuais para receber alguns “curtir”, e assim por diante.
Nesses casos extremos, o aplauso e o elogio induzem cada vez mais essas pessoas à valorização, por elas mesmas, somente daquilo que é reconhecido pelos outros. Como, atualmente, a imagem perfeita tende a produzir mais destaque e de forma mais rápida, então é essa qualidade que predomina em relação a todas as outras. Os outros aspectos da personalidade são, então, deixados de lado, reduzindo a identidade a uma fina casca chamada aparência.
Isso porque ao ficar preso ao julgamento do meio, o indivíduo se sente, com frequência, obrigado a agradar o tempo inteiro. Por exemplo, ao impedir-se de contradizer as opiniões do meio com medo da reprovação ou da exclusão. E a vida tornar-se um teatro, uma tentativa constante de se modificar para se destacar no meio. Com isso, suas características essenciais, já relegadas ao segundo plano, são gradativamente substituídas por características forjadas, o que altera ainda mais a identidade do indivíduo e torna-o uma “versão falsa” de si mesmo. Afastado de suas próprias opiniões e impedido de se expressar adequadamente, tem diminuída sua capacidade de lidar com as frustrações geradas pelas diferenças que surgem no convívio com os outros, pois não aprendeu a intermediar tais diferenças, apenas a se adequar às exigências.

O círculo vicioso

O vício é um comportamento que gera sofrimento e visa à fuga de determinada angustia e ao preenchimento de determinado vazio. Quanto mais se usa a imagem como solução para aplacar esses sentimentos, mais dependente, ou “viciado” da imagem o indivíduo se torna. Perceber-se dependente diminui ainda mais a autoestima, uma vez que o indivíduo não consegue valorizar nenhuma outra característica, em si mesmo, tão positivamente quanto valoriza a própria imagem. E, além de ter exposta a incapacidade de se gostar, tem também que lidar com a angústia e a ansiedade geradas pela incerteza sobre as manifestações externas, que podem ser de aprovação, mas também de reprovação de sua imagem.   
Para piorar a situação, a imagem não é algo estático e tende a se deteriorar com o passar do tempo, o que diminuirá constantemente o destaque que consegue obter. E ao viciado, a falta da droga, nesse caso o aplauso, pode tornar a vida um fardo e levar o indivíduo à adoção de medidas ainda mais drásticas na construção da imagem corporal. Pode também conduzir a estados depressivos, à desmotivação na construção de objetivos e etc.

Desenvolvendo a autoestima

Novamente, possuir autoestima boa é ser capaz de se valorizar e de se sentir bem consigo mesmo que as respostas do meio sejam reprovadoras ou desagradáveis. E, como mostrado anteriormente, para atingir esse estado psicológico é necessário dar alguns passos além da simples exposição da imagem para o meio em busca de destaque.
Certamente, de início, é importante um bom relacionamento com o meio social, pois é por meio das interações e das comparações com outros indivíduos que o indivíduo é capaz qualificar as próprias características. Esse bom relacionamento, porém, deve ser construído gradativamente e em relação ao indivíduo como um todo. A construção do relacionamento de forma gradual permite o aprofundamento das interações entre o meio e o indivíduo.
Ao apresentar-se para o meio como um conjunto de capacidades que o representam totalmente, as respostas às interações permitirão uma percepção e um reconhecimento mais abrangentes, que incluirá tanto as qualidades como os defeitos, mesmo que essa percepção ainda seja vinculada às posições desse mesmo meio.
Dessa forma, ao reconhecer os seus defeitos o indivíduo pode tentar melhora-los. E ao ser reconhecido como um todo, e não como uma imagem somente, o indivíduo é valorizado em aspectos mais sólidos e duradouros de sua personalidade. Muitos destes aspectos, diferentemente da imagem, não são apenas receptivos e deterioráveis. Podem, em sua maioria, desenvolver-se e propiciar a participação ativa do indivíduo nos ambientes.
Ao enxergar-se como um conjunto de características, pode por meio delas se identificar com os diversos meios sociais dos quais participa. Cada meio responderá diferentemente quanto às demonstrações de admiração e ou reprovação em relação ao indivíduo. Isso quer dizer que uma característica que era tida como boa em determinado meio poderá não ser vista da mesma maneira em um ambiente distinto. Dessas contradições o indivíduo pode perceber que a qualidade está nele e não nos difusos reflexos apresentados pelos meios; e que, em meio a tantos julgamentos diferentes, depende apenas dele a valorização de suas características de maneira sólida. A percepção dos aspectos mais sólidos e duradouros da própria personalidade possibilita o amadurecimento psíquico e facilita a aceitação em relação às variações da imagem, como as proporcionadas pelo envelhecimento.

Conforme assume gradativamente as próprias definições sobre sua identidade, passa a confiar cada vez mais em sua capacidade de se determinar. Assim, terá desenvolvido habilidades de autovalorização e trará seu ponto de decisão cada vez mais para si mesmo, reduzindo o impacto dos julgamentos do meio e tornando-se independente deste. 

Um comentário:

Todas as imagens utilizadas nos artigos foram extraídas do Google Imagens