terça-feira, 24 de março de 2015

Meu Papai Noel

Entrevista cedida pela Psicóloga Fernanda Guimarães ao Jornal OVALE.

Qual o momento certo de contar ao filho que Papai Noel, Coelhinho da Páscoa, etc, não existem?

Não há exatamente um momento certo. O mais adequado seria que esse tipo de fantasia persistisse durante a infância, ou seja, não ultrapassando os 10 anos de idade e cessasse com a entrada desse sujeito na adolescência, que acontece a partir dos 11 anos e proporciona outros tipos de fantasias, como a idealização e identificação com ídolos, por exemplo. 

De que forma a fantasia pode ajudar ou prejudicar?
Fantasiar é muito importante para a vida psíquica das crianças, pois estimula o desenvolvimento do intelecto, da imaginação e da criatividade, e trabalha aspectos emocionais. Durante o processo de fantasiar,a criança entra em contato com seus sentimentos, os expressa, e, muitas vezes,elabora angústias que ela ainda não sabe expressar verbalmente. Mas, é importante que o fantasiar seja acompanhado também de dados de realidade, para que a criança aprenda a diferenciar o fantasioso do real, e vá adquirindo meios para lidar com tudo o que envolve a realidade: alegria, tristeza, frustração,vitórias. Se a criança fica presa somente a aspectos da fantasia, ela pode vira ter dificuldades para lidar com a vida real, o que acarretará em dificuldades em suas relações sociais, por exemplo.

Se a criança soubesse que são os pais que compram os presentes, não valorizaria mais as figuras paterna e materna?
Isso dependeria muito da família e da cultura na qual essa criança foi criada. Essa valorização já deverá acontecer a partir do momento em que ela descobre que são os pais que compram os presentes no Natal. Vivenciar a crença de que o Papai Noel existe é importante para as crianças, pois ele é uma das figuras mais bonitas da infância, e representa muito mais do que alguém que traz presentes no Natal: além de simbolizar o valor da família e estimular,desde muito cedo, o respeito pelo idoso, o Papai Noel traz consigo esperança:mesmo que, durante a infância, ela seja representada pela esperança em ter um desejo atendido.

Por outro lado, não acreditar no bom velhinho pode prejudicar a criança? Ela pode se tornar um adulto pouco sonhador?
É importante que a criança fantasie. Mesmo que não seja com Papai Noel, ela precisa ter outros meios de fantasiar. Não fantasiar pode, sim, ser prejudicial, na medida em que o desenvolvimento do intelecto e da criatividade e a elaboração de angústias pelo brincar e fantasiar serão menos estimulados. 

Na hora de esclarecer que cautelas devem ser tomadas? Como isso pode ser feito de modo a não trazer prejuízos?
Geralmente, esse esclarecimento não é feito de forma súbita. Acriança começa a desconfiar que Papai Noel não existe, até que se dá conta de que quem compra os presentes são os pais. É importante respeitar o tempo de cada criança, e não revelar a verdade de forma dura, para que não haja uma ruptura abrupta com a fantasia. O ideal é que se espere até que ela comece afazer perguntas sobre Papai Noel, e que os pais, então, deem dicas sobre a verdade, mas sem a necessidade de revelá-la por completo em um único momento.Caberá a criança, então, reunir as evidências e perceber, aos poucos, a realidade.

Existe algum risco de a criança carregar traumas? Deixar de confiar nas pessoas, por exemplo?
De forma geral, não há esse risco, porque a crença no Papai Noel é uma das recordações mais bonitas e saudáveis da infância. Ela é uma fantasia universal, direcionada a todas as crianças e é diferente de uma mentira contada para um único sujeito – o que poderia fazer com que ele se sentisse enganado e traído, e deixasse de confiar nas pessoas. Por outro lado, uma criança mais presa ao mundo fantasioso, que tenha dificuldade em lidar com a realidade e comas conseqüências que esta traz, pode, sim, se sentir enganada e desenvolver algum trauma. Se os pais perceberem que a descoberta da verdade em relação ao Papai Noel foi dolorosa, é importante que eles conversem bastante com os filhos,explicando os motivos sobre essa fantasia e deixando claro que é algo saudável,mágico e que trará boas recordações.

Fernanda A. Linhares Guimarães
Psicóloga – CRP:06/90599
Rua Arnaldo Ricardo Monteiro, 71, São José dos Campos
Tel:12-39414392
 

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