segunda-feira, 23 de março de 2015

Jovens Voluntários

Entrevista cedida pela Psicóloga Fernanda Guimarães e pelo Diretor do Grupo Projetar Roberto Guimarães ao Jornal Correio Braziliense.

Por que ajudar a outras pessoas sem receber nada em troca pode deixar as pessoas, em especial os jovens, mais felizes?
Ajudar alguém é uma forma de se se sentir responsável por algo, aumenta a sensação de que se é produtivo. O ser humano é um ser que vive em sociedade, e uma das aflições que o atinge é o questionamento sobre os propósitos de sua existência. Fazer trabalhos voluntários significa atuar para o outro, e isso atende tanto a necessidade de ser social como atribui ao indivíduo um significado, uma utilidade. O fato de não receberem recompensas financeiras ou materiais é positivo pois estimula solidariedade e compaixão espontâneas, já que os ganhos emocionais resultantes da interação são muito mais significativos.

De que maneira esse sentimento pode afastar os adolescentes de uma possível depressão?
A auto estima desses jovens tende a melhorar quando se sentem úteis, responsáveis e produtivos, assim como quando possuem um propósito de vida que envolva o cuidado com outros. O jovem forma sua identidade - e consequentemente sua auto estima - também pelo reconhecimento dos outros, ou pelo medo da reprovação que pode sofrer em suas relações sociais. O trabalho voluntário oferece imediato reconhecimento no ambiente em que atua.

Isso tem a ver com algo que está acontecendo com o corpo do jovem, a puberdade?
As alterações hormonais provenientes da puberdade afetam a estabilidade emocional do jovem, que fica mais suscetível a alterações de humor. Mas, além disso, essa é uma fase que envolve profundas reflexões sobre a identidade do adolescente, sobre quais normas e regras seguir, com quais grupos se relacionar e etc., já que o adolescente está deixando para trás sua identidade de criança e está tentando descobrir a sua identidade adulta. E as incertezas quanto a essa identidade, uma vez que normalmente as responsabilidades da vida adulta ainda estão indefinidas (no que quer trabalhar, se quer se casar ou não, e etc.), podem aumentar sua insegurança,torna-lo mais propenso a desenvolver quadros depressivos ou transtornos de ansiedade.

O ambiente externo e as pressões da fase também influenciam nesse bem estar?
Sim, influenciam. A adolescência é por si só um período bastante delicado, pois envolve uma série de alterações hormonais, sociais e psíquicas. O adolescente ainda não encontrou seu lugar no mundo. Sua identidade está em processo de formação: precisa se descobrir como indivíduo, descobrir-se profissionalmente, formar suas próprias opiniões, encontrar sua independência e etc. Se o indivíduo possui o reconhecimento do meio social e se sente produtivo poderá ter sua auto estima aumentada e, com isso, o seu bem estar.  Na sociedade individualista em que vivemos, encontrar um equilíbrio entre as ações individuais e coletivas, tais como o voluntariado, pode aumentar sensação de pertencimento, e consequentemente o bem estar e a realização pessoal.

Que perfis de jovem é mais propenso ao trabalho voluntário e ajudar outras pessoas?
Não se pode definir um perfil determinante, mas alguns fatores podem tornar o jovem mais propenso para essa atividade: jovens que já se viram em condições de necessidade e jovens que são culturalmente estimulados à solidariedade poderão entender com mais facilidade o significado do trabalho voluntário, assim como seus benefícios. Porém, qualquer jovem pode se realizar como voluntário.  O importante é que ele encontre um voluntariado que se enquadre em seu perfil, encontre assim um sentido para realizar tal trabalho e se comprometa com ele.

Em quanto tempo de trabalho voluntário é possível perceber a diferença neles?
Esse tempo varia de adolescente para adolescente, dependendo de sua dedicação, seu comprometimento e do significado que atribui a essa atividade. A partir do momento em que esse jovem entende porque está ali e que diferença esse trabalho pode fazer tanto em sua vida quanto nas vidas das pessoas que ele beneficia, o resultado se torna perceptível a todos ao seu redor. Novamente, escolher em qual tipo de voluntariado ele se enquadra melhor é fundamental.

Como os adolescentes podem ser motivados a ajudar outras pessoas?
As instituições tem um papel importante nesse caso: a família, a escola, os meios de comunicação e outras instituições devem divulgar a importância e os benefícios do trabalho voluntário. Quanto mais esclarecimento e contato um indivíduo possuir com esse tipo de atividade, maiores são as chances de que se sinta motivado a atuar.

Que papel a família tem nesse incentivo?
Por ser, normalmente, o primeiro ambiente no qual o indivíduo entende a realidade, as relações sociais e conhece a si mesmo, a aprovação e o exemplo da família são muito importantes,mesmo na adolescência, período em que muitas vezes o indivíduo questiona a autoridade e os conhecimentos recebidos dos pais. Entretanto, um indivíduo que não encontre tais referências na família também pode se interessar por esse tipo de atividade e, quem sabe, acabar despertando esse senso de ajuda ao próximo nos familiares e pessoas ao seu redor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Todas as imagens utilizadas nos artigos foram extraídas do Google Imagens